quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Geração New Balls Please



No início da década de 00, eu era um miúdo que crescia na modalidade vendo torneios atrás de torneios quase todas as semanas. Durante esse período, a ATP promoveu uma campanha de renovação da sua imagem com vista a trazer mais notoriedade a um grupo de jovens promissores jogadores candidatos a tornarem-se estrelas mundiais da modalidade. Chamou-lhe “New balls please”, uma metáfora que pretendia equiparar a substituição das bolas durante o jogo com o surgimento de uma nova geração de jogadores.

Uma geração mais velha de nomes estava em fim de carreira. Sampras, Agassi (acabou por jogar até 2006), Martin, Rafter, Kafelnikov, Krajicek, Rusedki ou Pioline estavam a chegar aos 30 anos e começavam a ter menos fulgor no circuito. O ATP, vendo este cenário, detectou uma excelente oportunidade e avançou para uma campanha de Marketing para promover estes jogadores mais jovens como Safin, Haas, Hewitt, Ferrero Lappenti, Kiefer, Kuerten, Federer (Certamente não era considerado a maior estrela das “new balls”), Roddick, Grosjean, Coria, Nalbandian ou Gonzalez.

Toda esta geração de talentosos jogadores presentes nos quadros dos torneios fazia com que assistir a um torneio de ténis neste período fosse algo de muito interessante, pela qualidade dos encontros e pelo mediatismo que estes jogadores arrastam consigo para dentro do court. O ténis do inicio da década era um ténis excitante e de nível médio altíssimo, o que fazia particularmente os Grand Slams serem 15 dias tenísticos de querer ficar colado à televisão para ver grandes encontros, muitas vezes, ainda em fases iniciais dos torneios. Para além disto, o maior duelo dos 90’s (Sampras vs.Agassi) ainda “fazia faísca” e continuava a deliciar todos os fãs de ténis mundial. Os duelos entre ambos relativos aos ¼ de final e final do Us Open (2001 e 2002 respectivamente) são autênticos clássicos para os seguidores atentos da rivalidade).

Os favoritos não eram tão favoritos, o domínio dos jogadores de top era menor e cada jogo trazia um grande nível de incerteza quanto vencedor. Para mim, isso suscitava muito interesse, pois a competição e as diferenças de forma entre cabeças de cartaz era muito equilibrada. Senão vejamos: Desde 2000 a 2003, não se verificaram vitórias em 2 Grand Slams na mesma temporada por qualquer jogador. Neste período de 4 épocas, 2 vitórias em torneios do Grand Slam foi o máximo obtido por qualquer jogador (Agassi, Hewitt, Sampras e Kuerten). Foi um período muito equilibrado onde vencedores inesperados triunfaram (Ivanisevic, 125 mundial e wild card em Wimbledon, Thomas Johansson na Austrália ou Albert Costa em Roland Garros). Gosto de surpresas, acho que aguçam o apetite do jogo. Quando surgem vencedores consecutivos, não há tanta curiosidade de ir ver o que se passa, e passam a estar criadas as condições para se fazer muita tinta correr quando o favorito perde (O tal monstro que Roger Federer falava numa época “menos positiva” em 2008.
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O ano de 2003 traz um Roger Federer a um nível enorme, que arrasa a concorrência em Wimbledon e no Masters, terminando o ano em nº3 Mundial. Roddick acabou nº1 nesse ano devido a vitórias no “swing” de verão americano e Us Open, e Ferrero (Recentemente ressurgido com 2 títulos em 2010) em nº2 com uma temporada de terra batida brilhante. Mas em Janeiro de 2004, Federer vence na Austrália, ascende ao primeiro posto e inicia uma nova era no ténis. O Swiss Maestro elevou o seu nível de tal forma que criou um grande fosso para a concorrência, não dando hipóteses aos restantes “new balls”. Os competidores mais próximos de Federer foram acumulando records terríveis face ao novo nº1 mundial. Roddick (2-19) e Hewitt (7 – 17) são bons exemplos disso com a excepção de Nalbandian durante algumas temporadas, chegou a ser considerado o nemesis de Federer) e os torneios tornaram-se mais previsíveis. O nível de ténis estava mais alto, mais completo e mais rápido que nunca.

Federer é simplesmente…Federer. Para mim, é o jogador com as mais sublimes performances em termos de nível exibido de sempre. O circuito começou a sofrer em meados de 2004, 2005 os efeitos do tornado “Roger”. O jogo praticado pelo suíço era tão elevado que em 2004 levou 3 Grand Slams para Casa, em 2005 “apenas” 2 (em parte devido a Safin vs. Federer na Austrália, num dos melhores jogos de ténis que já assisti), em 2006 e 2007 mais 3 em cada. Não muito tempo depois (2005), surge Rafael Nadal a compilar recordes absolutos na terra batida (Se me lembro perdeu 5 jogos em terra batida até hoje desde 2004 altura em que começou a vencer tudo: Andreev em Valência, Federer em Hamburgo, Ferrero em Roma, Federer em Madrid e Soderling em Paris). O domínio de Nadal é/foi tão grande que me recordo das derrotas em terra batida de Nadal de cabeça. Nos últimos anos assistimos várias vezes aos 4 primeiros cabeças de série atingirem as meias-finais de Grand Slams. Criou-se um fosso cuja passagem era exclusiva a um grupo de poucos jogadores.

O que quero eu dizer com isto tudo? Obviamente que estes períodos de domínio de Federer e Nadal e consequente elevar do patamar de jogo fizeram a modalidade evoluir positivamente. Nunca se tinha visto tamanha classe de um jogador como Federer, ou “passing shots” em desequilíbrio impossíveis na passada de Nadal. Joga-se mais e melhor hoje em dia, a bola tem outro “peso”. Outros jogadores seguiram-lhes os passos e Djokovic, Murray, Del Potro, ou Tsonga são exemplos notórios disso. Possuem um nível tremendo que aprecio obviamente. No entanto, na minha opinião geral do circuito, creio este enfraqueceu bastante em termos de riqueza. Havia mais nomes e um maior contraste de estilos antigamente. Termino com um exemplo: Não vejo como é que jogadores como Hicham Arazi ou Gaston Gaudio poderiam dar hoje luta a um jogador do top 50. Penso que seriam facilmente derrotados os 2 por um resultado expressivo. Mas eu desembolsaria muito mais facilmente o meu dinheiro para os ver actuar um contra o outro do que os dois jogadores do top 50 actual.

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